«A serenidade espiritual é o fruto máximo da justiça»
Epicuro
«Conhece-te a ti próprio e tu conhecerás o Universo e os Deuses»
Templo de Apolo em Delphos

Património Iniciático

Uma das características do Rito Egípcio é o facto de ter sido organizado, a partir de um único património simbólico e ritual, em diferentes modalidades, em função de lugares e épocas distintos.

A Grande Ordem Egípcia é depositária do património simbólico e ritual do Rito Antigo e Primitivo de Memphis-Misraim, conserva-o, administra-o e confere-o segundo esta escala em 33 graus, definidas pelo acordo de 1862 entre Marconis de Nègre e o Grande Oriente de França (escala em 33 graus) e segundo o conteúdo iniciático proporcionado por John Yarker.

Nesta escala, os graus praticados são os seguintes:

  • 12° - Cavaleiro Rosa-Cruz da Águia Negra, Branca e Vermelha, chamado Cavaleiro da Águia Vermelha;
  • 20° - Sublime Filósofo Desconhecido, chamado Filósofo Hermético;
  • 27°- Mestre Egípcio, Sábio das Pirâmides, Amigo do Deserto, chamado Patriarca de Ísis;
  • 30° - Sublime Mestre da Grande Obra;
  • 31° - Grande Defensor do Rito;
  • 32° - Príncipe de Memphis;
  • 33° - Patriarca Grande Conservador.

Os graus intermediários são transmitidos através de comunicação.

A organização dos Collégios:

  • Os Colégios Egípcios administram os graus do 4° ao 30°;
  • A Academia Egípcia reúne os graus 31° e 32°;
  • O Soberano Grande Conselho reúne os Irmãos do 33° grau.

Assim, as iniciações acompanham os Mestres Memphis Misraim, desde a Cabala judeo-cristã (do século XV ao século XVIII), à retoma do Hermetismo na Renascença – com o seu profundo enraizamento nos mistérios gregos e romanos – e ao Esoterismo do Egipto.

Primeira etapa, o grau de Cavaleiro Rosa-Cruz da Águia Negra, Branca e Vermelha, chamado Cavaleiro da Águia Vermelha (12°), talvez seja o mais surpreendente, tamanha é a sua riqueza. Este antigo grau hermético – que mergulha as suas raízes para muito além do século XVIII – é atestado no decorrer da década de 1760. Foi praticado sobretudo em Metz, pelo Barão de Tschoudy, bem como em Paris e em Marselha. Encontramo-lo no decorrer da década de 1780 como grau de fim de sistema do Rito Escocês Filosófico. Teria desaparecido, se não tivesse integrado a escala de graus de Misraim e posteriormente de Memphis.

A segunda grande etapa é o grau de Sublime Filósofo Desconhecido, chamado Filósofo Hermético (20°). No plano iniciático, inscreve-se sem dúvida alguma nesta "filiação" que parece ser a remota herdeira dos mistérios pitagóricos, eleusínios ou até mesmo mitraicos, que se expandiu a partir dos círculos neoplatónicos da Renascença e implementa uma rica interpretação simbólica do mundo e a ascese iniciática no âmago do universo.

O grau de Mestre Egípcio, chamado Patriarca de Ísis (27°), resume, prolonga e conserva a busca e o ensino dos pequenos ritos egípcios que prosperaram em França no final do século XVIII e no início do século XIX. O Egipto invocado é, antes de mais, um símbolo, o berço das iniciações que têm inspirado o esoterismo ocidental desde a Renascença. Mas, os textos rituais da iniciação utilizados na Grande Ordem Egípcia do Grande Oriente de França "reactivam" aqui, de maneira incontestavelmente autêntica, o que constituiu os cultos com "Mistérios" na sua formulação ptolemaica.

O Sublime Mestre da Grande Obra (30°) aproxima, nos planos simbólico e ritual, o iniciado do "Primeiro Príncipe das Coisas". O iniciado é conduzido, através das principais etapas desse percurso, à plena realização do seu ser, o que lhe permite revelar todas as potencialidades e qualidades da sua dupla natureza humana e espiritual.

O Grande Defensor do Rito (31°), o Príncipe de Memphis (32°) e o Patriarca Grande Conservador (33°) não são graus administrativos, dispondo cada um deles de uma cerimónia de recepção. Completam a progressão dos Irmãos empenhados na prosperidade do Rito.

A abordagem é pré-cristã e enraíza-se nos cultos com "Mistérios" e nos filósofos da Grécia Antiga, no Egipto Alexandrino e no Egipto Antigo. Nenhuma referência é feita à lenda de Hiram, nem ao Antigo ou Novo Testamento.
A busca já não é senão simbólica e visa a retomar os trabalhos da Academia de Alexandria e da Academia de Florença, uma visão que engloba as culturas, independentemente do lugar e da época, e que transcende as religiões, permitindo que o Homem assuma a sua verdadeira dimensão no Universo e, por conseguinte, o lugar que lhe cabe na sociedade. O famoso lema "conhece-te a ti mesmo", inscrito no frontispício do Templo de Apolo, não é estudado para se voltar as costas ao mundo, mas para o redescobrir, preparando-se para uma passagem à acção enquanto cidadão.

O trabalho iniciático a que nos convidam os "altos graus" da Grande Ordem Egípcia do Grande Oriente de França tenta reunir, na harmonia, a exigência humanista e a busca espiritual, dois aspectos que nos parecem ser inseparáveis da nossa tradição maçónica.