Esta síntese, visa dar, em traços gerais, uma pequena ideia do que é propriamente a Cabala, e, o porquê do seu estudo ser tão importante na caminhada espiritual. Este estudo centra-se na obra de três de autores Cabalistas, José Cunha Rodrigues representante do Kabbalah Centre Internacional em Portugal com a sua Obra “À Luz da Cabala”, Geert Kimpen com a sua obra “Passo a Passo com a Cabala” autor também, do Livro “O Cabalista”, e Yehuda Berg autor do “Livro da Fita Vermelha”, a mesma é centrada e desenvolvida em três questões que se prendem com:
- Origem da Cabala
- Obra Central da Cabala
- O que é e para que serve a Cabala
Origem da Cabala
A Cabala foi transmitida de geração em geração, desde os patriarcas da Bíblia, como Abraão, Maomé, Moisés, Jesus Cristo, e por grandes Cabalistas tais como Rav Shimon Bar Yohai, Rav Isaac Lúria, Rav Ashlag, Rav Brandwein, e na actualidade Rav Berg. A Cabala transmite ensinamentos sobre a Criação, foi alvo de perseguições, lutas, ameaças, incompreensões, acusações, até ser abolida, mas não na sua totalidade pois foi mantida e praticada sob secretismo durante séculos, longe de críticas, de dúvidas, medo e curiosidade, sentimentos estes, próprios de mentes que ignoram e desconhecem algo. Só começou a ser divulgada aquando da descoberta da Obra Central da Cabala, em Espanha.
A Obra Central da Cabala
A Obra que rege todos os Cabalistas foi escondida após a destruição do segundo Templo Sagrado, ressurgindo 1200 anos depois em 1270 em Espanha, e isto porque o exército cristão por acaso encontrou-a em Jerusalém quando efetuava escavações na Terra Sagrada no séc. XII, e como não entendiam os seus textos em aramaico, levaram-no aos Cabalistas Espanhóis para os decifrarem, foi então em Espanha que foi revelada ao mundo.
Esta Obra Central dos Cabalistas foi impressa por uma figura improvável, devido à inquisição romana que não perdia a oportunidade de fazer uma boa fogueira de todos os livros judaicos que lhe aparecessem à frente, mas tão extraordinário era a sabedoria que emanava dela que o Papa IV em 1558 não resistiu e deu o seu aval á primeira impressão.
Esta Obra é o Livro do Zohar, ou Livro do Esplendor, datada do século II a.C., está divida em 23 volumes, utiliza o alfabeto aramaico, que para os cabalistas para além da função de juntar letra a letra formando uma palavra, o alfabeto assume também a função de um canal de energia espiritual. Ao longo destes 23 volumes são retratados textos que descodificam os segredos contidos no Antigo Testamento e na Tora, nomeadamente a nível, do pensamento sobre a alma, do amor humano, do amor divino, do sexo, do dinheiro e da dignidade humana, focando uma interpretação muito própria por parte de mestres espirituais sobre os Dias Finais com previsões das quais se exemplifica com as duas frases que transcrevo: «… Esses dois tipos de julgamento serão combinados. Muitas Torres queimarão (…) e muitas torres ruirão e (…) cairão nesse dia.» O Zohar, Vol.VIII, I 5:116 (A Vinda do Messias) « B’ladan é o seu nome… E Ele não é um ser Humano…»
O Zohar, Vol. I, 12:97 Para os Cabalistas o nome B´Ladam é a representação de uma força negativa que se apresentaria em data futura prevista. A Letra B’ que se lê “Bal” assume o significado da palavra de negação “NÃO” e Adam significa Homem e que juntas significam NÃO HUMANO. Foram vários Sábios que estudaram o Zohar e aplicaram os seus ensinamentos nas suas obras e feitos, tais como, e a título de exemplo, Isaac Newton que foi o primeiro físico a descobrir que a Luz Branca abarca todas as sete cores do arco-íris e que segundo os Cabalistas se baseou no seu Zohar pessoal que na actualidade se encontra arquivado na Faculdade de Trinity, em Cambridge.
No Zohar pode-se verificar uma das citações em que se baseou para a sua descoberta acima referida: «…as cores combinam-se umas com as outras e misturam-se umas às outras, e cada uma empresta parte da sua cor à sua vizinha, excepto a cor branca, na qual estão todas incorporadas.» Livro do Zohar. Mas vários génios tais como Mozart, Platão, Shakespeare, Einstein usaram este mesmo poder da Cabala contido no Zohar, o livro do Esplendor, nas suas obras geniais.
O que é e para que serve a Cabala
O Estudo da Cabala não trata da vida neste mundo, mas sim do conhecimento ao nível que o ser humano possuía antes da sua queda na matéria. A Cabala visa reconstruir assim, um sistema espiritual que o leve de novo à sua origem, à unidade. Este caminho espiritual é representado por um dos mais importantes símbolos cabalísticos, as dez esferas da Árvore da Vida. Cada esfera ou Sefirot emana os aspectos de Deus dentro de cada pessoa, tais como, a Coroa, a Sabedoria, a Compreensão, a paixão, a Justiça, a Beleza, a Vitória, a Renovação, o Fundamento e o Reino. As leis que regem o fluxo destas energias foram estabelecidas durante o processo da Criação, que pode ser vista como uma progressiva transformação de níveis de energia espiritual. Nesta progressiva transformação, foram criados universos espirituais paralelos, sendo o nosso mundo o último desta corrente.
Este ensinamento não é, contudo, um culto, uma religião nem uma autoajuda, ele tem por objectivo simplesmente, dar um sentido à própria Vida, conectar o Homem ao poder supremo, através de práticas para uma ascensão e emancipação da alma, apresentando uma visão clara de que as leis universais existiram muito antes de qualquer religião criada pelo Homem. No Mundo da Cabala a essência do Humano assenta num âmago que é o Desejo, e é através deste que tudo se movimenta. Este âmago intitulado de Desejo subdivide-se em desejos mais básicos, mais grosseiros, em desejos da ribalta, da fama, do prestígio e em desejo do conhecimento, direcionado para a apreensão da sabedoria, mas estes desejos ainda estão impregnados de egoísmo desejando receber só para si mesmo.
Os Sábios Cabalistas intitulam de Recipiente, a todo este desejo, pois tal como um vaso, o desejo do Homem tem como missão primordial, o de ser preenchido, mas no ser humano não há limite para a fome desse mesmo desejo, principalmente se se tratar de o maior de todos que é o de ser feliz, mas a perspectiva de felicidade altera consoante cada um, por isso para os Cabalistas, ser Feliz é verdadeira substância. Na Cabala é utilizado um código que representa o que está acima do ser humano, e, é apelidado de LUZ que não é mais do que a força motriz no auge da plenitude, chamada de Desejo que faz o Homem mover-se em busca da satisfação do mesmo, seja qual for o motivo inerente, isto é a Felicidade permanente que habita por todo o lado, só é necessário estar atento a usar os utensílios correctos, e a altura certa para atingir essa LUZ que se encontra espalhada e de forma ilimitada, embora o Homem não o saiba, e não o sabe, porque segundo a ciência da Cabala, existe uma cortina que divide o mundo em 2 dimensões, a de 1% que é o mundo físico, onde impera a realidade dos cinco sentidos, e a 99%, o mundo espiritual, a verdadeira realidade, mas contudo, há um só mundo, as realidades é que são diferentes.
No 1% tudo acontece por acaso, tudo o que existe é visto, sentido, cheirado, tocado, saboreado através dos 5 sentidos, no 99% é onde existe a verdadeira felicidade, onde tudo é perfeito, ilimitado e isento de ilusões, ou seja, a luz brota no seu actual esplendor. Este conceito está de certa forma retratado na Alegoria da Caverna escrita pelo filósofo Grego Platão, onde a Luz existe fora da caverna, mas os seus habitantes vivem acorrentados, cingidos somente ao que os seus cinco sentidos lhe proporcionam, não enxergando a verdadeira realidade embora ela exista pronta para ser usufruída.
Esta cortina é nada mais nada menos que o de Ego Humano, e é este “defeito” que impede o Homem de percepcionar, e de receber essa mesma LUZ. Essa cortina, impede a visão do Eu Verdadeiro, da sua alma que o ser humano se esqueceu e perdeu o contacto com todos os verdadeiros desejos que emanam do seu interior, em vez disso, é governado e dominado pelos caprichos do Ego. Sendo assim, a Felicidade, a Luz, existe na Natureza e está ao alcance de todos, foi criada para ser usufruída pelo Homem, e cada um é um recipiente que precisa de ser preenchido através do Desejo, mas para que isso se concretize, esse mesmo recipiente não pode estar cheio, cheio de negatividade, de raiva, de arrogância de superioridade, de inveja de ganancia, enfim, de todos os sentimentos inerentes ao Ego inflamado que brota preconceitos, cega e afasta a Humanidade da sua única missão na Terra, a de se transformar, a de percorrer o tal caminho espiritual acima referido, que o leve de novo ao sítio de onde veio, tornando-se a humanidade numa alma una. A Cabala transforma o complexo em simples, e é nesta simplicidade que reside o seu problema em ser compreendida, a verdade, ou seja, o Amor a verdadeira Felicidade não tem de ser explicada com complexidade, pois tudo que foge à simplicidade pode-se ter a certeza de que é algo pouco verdadeiro. A maçonaria com a sua máxima “Liberdade, Igualdade e Fraternidade” sempre buscou o oculto para fazer face a este ideal, e neste prisma o caminho a seguir é igualmente simples e descomplicado, deixando-se levar simplesmente pela humildade de espírito pelo humanismo, a fraternidade, gentileza, que se resume ao Amor e Paz.
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Bibliografia
Cunha Rodrigues, José 1ª Edição: Março de 2008, À Luz Da Kabbalah, Rua Conde
Redondo, 8, 5º Esq.: Guerra & Paz.
Kimpen, Geert, revisão Junho de 2010, Passo a Passo com a Cabala, lisboa, Bertrand
Editora. Berg, Yehuda copyright 2005,
O Livro da Fita Vermelha, Cascais, Editora Pergaminho, Lda.
